Um dos maiores problemas que envolvem o transplante de órgãos no Brasil é o desperdício. Entre 20% e 30% dos órgãos são descartados por problemas de logística. Para aumentar o número de transplantes bem sucedidos e evitar o descarte é que o Projeto TransplantAR foi criado. Lançado em 18 de dezembro de 2023, na sede da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o projeto propõe que donos de aeronaves particulares cedam seus aviões ou helicópteros para fazerem voos levando órgãos e equipes médicas para realização dos transplantes. Para entender o programa e divulgar a iniciativa, a Jovem Pan falou com Francisco Lyra, presidente Instituto Brasileiro de Aviação (IBA) e Prof. Doutor Ronaldo Honorato, cirurgião cardiovascular, médico do Departamento de Transplantes Cardíacos da ABTO – Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, membros fundadores do projeto.

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“Nosso propósito é primeiro evitar o desperdício de órgãos doados pela logística complexa, e o segundo é trazer o órgão dentro do tempo em que as células daquele órgão estejam vivas”, apresenta Francisco, que explicou que a ideia surgiu após contratar um consultor empresarial que teve a vida salva por um transplante de fígado, e que dedicava algumas horas de seu dia para ajudar a Central Nacional de Transplantes a melhorar seus processos. Desde então, utilizando a própria empresa e depois com a ajuda de outros colaboradores, utiliza aeronaves particulares com horas de voo doadas para levar cirurgiões para a captação dos órgãos e transporte para os centros transplantadores, com aval da ANAC e da Secretaria de Saúde de São Paulo.

“Há uma oferta de órgão em uma cidade remota, e então somos procurados no TransplantAR, e então a gente consulta a base de proprietários de aviões que já manifestaram o desejo de doar…quando em consigo a aeronave, a central de transplantes do Estado de São Paulo em coordenação com a central de transplantes de Brasília organiza a viagem e coordena com a equipe cirúrgica.” Explica Francisco, sobre o funcionamento, na prática do projeto. Ainda sobre o voo, segundo o Presidente do IBA a aeronave espera o tempo da cirurgia de captação do órgão para trazê-lo de para o transplantado.

A adesão ao programa tem sido muito positiva, como comenta Lyra. “Quando eu falo com empresários que possuem aeronaves, eu tenho tido 100% de adesão. O gargalo é que eu não consigo falar com todos.” Também mencionou que algumas empresas de combustíveis também doam para o projeto, além de algumas outras taxas abatidas pelos próprios aeroportos.

Ronaldo Honorato comentou sobre a crucialidade do tempo para esse tipo de operação. “Em um órgão que fica quatro horas fora do corpo da forma ideal, se perder uma hora ali esperando…tem que ter celeridade. O coração exige que tenhamos uma rapidez como essa que a aviação executiva tem. Mas a força aérea ajuda muito, as empresas aéreas ajudam muito…nosso foco é nesses órgãos que são mais voláteis.”

Também fez um apelo pela doação de órgãos. “Tudo começa com a doação. Então é importante que nós no Brasil tenhamos a cultura da doação de órgãos, porque todo esse projeto, esse programa, não acontecerá e não vai se perpetuar se não houver o fundamental da sociedade que é a doação de órgãos…é  muito importante que a sociedade entenda que o ato de doar é um ato genuíno de amor e altruísta na essência, e que o sistema de transplante brasileiro funciona sim, de forma correta, organizada e que órgãos doados são ao máximo utilizados.”