Cuidados Paliativos”, imagino que ao ler estas palavras você tenha sentido algum grau de desconforto, alguma sensação desagradável… Na prática diária, percebemos a carga negativa associada ao termo “paliativo.” A imediata conexão que fazemos em nossos cérebros com a finitude de nossa preciosa existência. Hoje quero tentar modificar essa percepção. Podemos olhar pela origem etimológica da palavra “Paliativo: , que vem do latim “pallium” e que tem sua definição mais atual pelo dicionário Oxford: o que tem a qualidade de acalmar, de atenuar um mal, de abrandar temporariamente. Podemos olhar pela própria definição da OMS (Organização Mundial da Saúde) que declara os Cuidados Paliativos como uma abordagem que visa melhorar a qualidade de vida de pacientes que enfrentam doenças ameaçadoras à vida.

Com o aumento da expectativa de vida em nosso país, cada vez mais nos depararemos com um diagnóstico de uma doença que ameace a continuidade da vida, seja da nossa própria vida ou da vida de alguém próximo e amado. Pessoas com doenças ameaçadoras à vida se veem de frente a dúvidas e problemas em diversas esferas: dor e outros sintomas físicos (falta de ar, fraqueza, falta de apetite, insônia), medos, inseguranças, questões existenciais, propósito, significado e legado.

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Os cuidados paliativos não apenas ajudam a aliviar o sofrimento físico, mas também oferecem suporte emocional, social e espiritual tanto para os pacientes quanto para suas famílias. Este tipo de cuidado é oferecido por uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, assistentes sociais e outros profissionais de saúde. A discussão sobre cuidados paliativos nestas doenças muitas vezes só surge quando um paciente está em fase terminal, porém, cada vez mais, os especialistas destacam a importância de se iniciar esses cuidados de forma precoce.

Os cuidados paliativos precoces permitem um planejamento mais detalhado e personalizado do tratamento, focado nas necessidades e desejos do paciente. Isso inclui discussões sobre metas de tratamento, preferências para cuidados futuros e decisões complexas sobre intervenções médicas. Há muitos dados em literatura médica atestando que iniciar cuidados paliativos precocemente ajuda a controlar sintomas físicos de maneira mais eficaz.

O controle adequado desses sintomas melhora significativamente a qualidade de vida do paciente. Esses benefícios são demonstrados não apenas em doenças oncológicas, mas também para pacientes portadores de inúmeras outras condições, tais como pneumopatias e cardiopatias crônicas. Além dos dados de estudo, a experiência clínica como médica paliativista também mostra que pacientes que recebem cuidados precoces têm uma melhor qualidade de vida e, em alguns casos, até uma sobrevida maior.

Além disso, esses cuidados podem reduzir a necessidade de hospitalizações frequentes e intervenções médicas invasivas, tornando o tratamento mais humanizado e menos oneroso. Para a família, o suporte oferecido pelos cuidados paliativos, ajuda-os a enfrentar os desafios emocionais e práticos de cuidar de um ente querido doente. Esse suporte pode incluir aconselhamento, grupos de apoio e ajuda com questões logísticas.

Oferecer cuidados paliativos a alguém gravemente enfermo é empoderar a pessoa em sua dignidade, focar em viver da maneira mais completa possível e não focar apenas no controle da sua doença. É crucial que tanto profissionais de saúde quanto o público em geral estejam cientes da importância de se considerar os cuidados paliativos desde o início do tratamento de uma doença grave. Parafraseando Cora Coralina, “não é apenas focar em acrescentar dias à nossa vida, mas em como podemos acrescentar vida aos nossos dias.”

*Por Dra Farah Christina De La Cruz Scarin – CRM 124609
Medicina Intensiva e Cuidados Paliativos
Hospital Israelita Albert Einstein