O Brasil disputa com os Estados Unidos a liderança nas cirurgias plásticas. Os implantes de silicone dominam os procedimentos do mundo. A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica contabiliza 1,3 milhão intervenções no Brasil em 2020, mas houve uma mudança importante: desse total, 25 mil cirurgias ocorreram para retirada do silicone. O chamado explante cresceu 31,6% em relação a 2019. Após o implante de silicone, os procedimentos mais comuns no mundo passam pela lipoaspiração, cirurgia das pálpebras, abdômen e rinoplastia. A Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica ressalta também mudanças geradas pela pandemia da Covid-19, com a diminuição dos procedimentos estéticos, 11% em 2020, em decorrência do fechamento temporário de 78% dos consultórios em todo o mundo.

A cirurgiã Fabiana Caterino avalia um reflexo natural da exposição de doenças relacionadas às próteses: “Desde 2020, quando o FDA nos Estados Unidos validou a doença, eu acho que ficou mais fácil as pessoas terem acesso a entenderem quando elas estão doentes por causa do implante. Por isso, eu acho que houve esse movimento maior, principalmente nos últimos dois anos, e todas as vezes que a gente fala sobre próteses, sobre doenças, gera um pouco de pânico nas pessoas e eu nunca vejo isso como pânico. Acho que isso é um alerta para a gente estar atento ao nosso corpo, atento ao que a gente coloca, até então o que está se manifestando, até para a gente não evoluir, não manifestar coisas mais sérias, mais graves. Então para as mulheres e para os homens, que tem homens que tem próteses também, porque não são só as próteses de mama, são próteses de glúteo, panturrilha, peitoral, todos os tipos de prótese de silicone causam esse mesmo efeito, para as pessoas terem essa atenção de buscarem ajuda, buscarem uma boa avaliação, para saberem fazer a prevenção e saberem procurar se realmente já não está hora de fazer o explante dessa prótese e tentar ter uma melhora clínica, uma melhora do quadro que tá de repente acontecendo”, defende.

O explante cresce no mundo também com a adesão de artistas e celebridades. A cirurgiã Fabiana Caterino não mais realiza os com silicone. “Infelizmente, é uma doença muito difícil de ser diagnosticada. Não existe nenhum exame que comprove a doença e que confirme que ela exista. É uma doença que tem um rastreamento clínico importante, você tem que conhecer o histórico da paciente, vincular isso aos exames de imagem que ela traga, alterações da própria prótese muitas vezes, e algumas alterações laboratoriais, mas que não são específicas, porque o corpo vai respondendo sistemicamente, são várias doenças que provêm da questão que envolve as próteses, não é uma única”, pontua.

Já o cirurgião plástico Regis Ramos defende que o acompanhamento periódico afasta as complicações decorrentes da utilização do silicone. “Foi preocupante, não é tanto mais quanto no início. Nós temos que fazer exames periodicamente, ou com mastologista ou com cirurgião plástico ou com o seu ginecologista, fazer exames de imagem, o toque na mama, se achar algo fora da normalidade, devemos fazer exames, como ressonância magnética, ultrassonografia, e é muito importante o profissional levar em conta a queixa da paciente. Pode haver vários fatores que podem contribuir para que o explante de silicone seja realizado”, diz.

Regis Ramos ainda descarta conclusões definitivas sobre os malefícios dos implantes. “Nós devemos lembrar que o silicone está no mercado já tem 60 anos. Ainda não temos nada comprovado cientificamente relacionado à doença do silicone. Nós temos que tomar muito cuidado com esse alarme que está sendo feito pela mídia, nas redes sociais, contra a prótese de silicone. Vamos aguardar, novos estudos surgindo, e nós vamos poder ter a certeza se realmente essa prótese ou traz algum malefício ao paciente ou não. Esse é um alerta importante. Sem esse alarde todo que está sendo feito aí, vamos com calma, vamos conversar com o seu profissional, vamos decidir o que é melhor para cada paciente individualmente”, argumenta. As notícias mexem com as pessoas. A design de interiores Vera Lúcia já colocou implante e o retirou anos depois, mas agora avalia um novo procedimento com o peso da saúde sobre a estética. “O que mais me preocupa são as doenças e o modismo também. Você coloca, você tira, você coloca, você tira, e isso eu penso que é muito perigoso”, comenta.

*Com informações do repórter Marcelo Mattos