A Varíola dos Macacos é apontada como Emergência Internacional de Saúde pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a doença vem se espalhando cada vez mais intensamente, e o país já registrou seu primeiro caso de morte pela infecção do vírus Monkeypox. A médica infectologista da Unicamp Raquel Stucchi, que é também consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, concedeu uma entrevista ao vivo para o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, nesta segunda-feira, 1º de agosto, para falar sobre a situação. Segundo ela, é preciso de orientações para os grupos mais atingidos pela doença e para os médicos ficarem atentos ao diagnóstico. A médica ainda comparou a enfermidade e sua transmissão com a Covid-19, apontando que a Monkeypox é bem menos transmissível.

“Sem dúvida nenhuma a capacidade de transmissão do vírus Monkeypox é bem inferior ao do vírus da Covid-19. Essa transmissão aérea, respiratória, ainda que possível com o Monkeypox, ela não é tão eficiente, vamos dizer, ela não se faz de uma maneira tão fácil como acontece com a Covid-19. A principal forma de transmissão, não é a única, mas a principal forma de transmissão do Monkeypox é o contato íntimo de pele com pele quando tem a lesão da doença”, afirmou Raquel Stucchi. “Hoje, o Brasil ocupa a sexta posição em números de casos absolutos da Monkeypox, e devemos ter ainda uma curva de ascensão, um aumento ainda importante dos casos. Nesse sentido, eu acho que uma orientação para os grupos que são mais acometidos neste momento e uma orientação para a comunidade médica, para estarem atentos a este diagnóstico, é o que de mais urgente nós precisamos fazer, além de, claro, conseguirmos vacinas e antiviral. Temos uma promessa do Ministério da Saúde neste sentido”, pontuou.

Questionada sobre o pedido da OMS para que homens que fazem sexo com outros homens reduzam a quantidade de parceiros sexuais, Stucchi disse ser uma informação importante, mesmo que a doença seja capaz de atingir qualquer pessoa, de qualquer gênero, sexualidade e idade, inclusive crianças e grávidas. “Do ponto de vista de especialistas, há um alerta especial para essa população, porque mais de 90% dos casos confirmados se concentram na população de homens que fazem sexo com outros homens. Essa população estaria mais sob risco. E a orientação da redução do número de parceiros ou parceiras de atividade sexual, tentar neste momento não iniciar uma atividade ou ter uma atividade íntima com pessoas desconhecidas, é extremamente importante porque representa 90% das pessoas acometidas. Agora qualquer pessoa que tenha contato íntimo de pele com pele pode vir a adoecer. E aí entra a justificativa para a maior parte das crianças que estão adoecendo neste momento, que é por um contato próximo familiar”, explicou a médica.

Sobre o processo de imunização para proteção contra o vírus Monkeypox, a médica afirmou que a vacina da varíola e a da varíola dos macacos são vacinas diferentes. “Não é a mesma vacina. A vacina que as pessoas com mais de 40 anos tomaram, porque a vacina foi feita no Brasil par quem nasceu até 1979, parou de vacinar em 1980, era uma vacina de primeira geração e com risco de efeitos adversos maiores. Hoje em dia, temos três vacinas, na verdade, uma produzida na Dinamarca, outra nos Estados Unidos e outra no Japão. Mas a preferida de todos, porque pode ter uma indicação bem ampliada, para gestantes, imunossuprimidos e crianças, por exemplo, é a produzida na Dinamarca. O que nós temos em relação a ela é que, por ser produzida em um único país e um único laboratório, há uma capacidade de produção limitada. Essa é a grande preocupação no momento. Agora os vacinados há mais de 40 anos atrás talvez tenham algum grau de proteção, porque a gente sabe que a vacina da varíola também protege contra Monkeypox. Mas o quanto de proteção não sabemos. Saberemos agora neste surto. Nós já temos pacientes vacinados no passado e que adoeceram agora, mostrando que a proteção depois de mais de 40 anos não é tao boa quanto desejaríamos”, finalizou Stucchi.