Pessoas com transtorno do espectro autista (TEA) enfrentam diversos desafios ao tentarem ingressar no mercado de trabalho. Esses obstáculos variam conforme as características individuais de cada pessoa com TEA, a rede de suporte disponível, o tipo de emprego almejado e a acessibilidade proporcionada pelo empregador.

O transtorno do espectro do autismo (TEA) é uma condição que abrange desordens do desenvolvimento neurológico presentes desde o nascimento ou início da infância. Trata-se de um transtorno amplo em termos de apresentação e níveis de gravidade, razão pela qual se utiliza o termo “espectro”. Isso inclui desde pessoas que necessitam de um nível elevado de suporte até aquelas que precisam de apoio mínimo.

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O TEA não tem cura. Assim, uma vez diagnosticado, o indivíduo permanecerá com o diagnóstico ao longo da vida. No entanto, intervenções realizadas por uma equipe multidisciplinar, especialmente se iniciadas precocemente, podem contribuir significativamente para o desenvolvimento e a melhoria da qualidade de vida dessa pessoa.

As manifestações comportamentais podem variar entre indivíduos, mas, para o diagnóstico, é necessário que estejam presentes déficits persistentes na comunicação social e na interação social, além de padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sinais geralmente surgem nos primeiros anos de desenvolvimento da criança e causam prejuízos significativos no funcionamento social.

O diagnóstico de TEA geralmente surge a partir da suspeita de um pediatra, seguida pelo encaminhamento a especialistas no assunto. No entanto, o cuidado e o acolhimento em torno do paciente devem envolver toda a sua rede de apoio. O tratamento multidisciplinar é imprescindível e faz diferença na socialização da criança na sociedade.

Diante disso, como ficam os adultos com TEA no mercado de trabalho? Há diversas medidas que podem ser adotadas para garantir um ambiente de trabalho saudável e inclusivo para pessoas com TEA. De modo geral, os obstáculos enfrentados incluem preconceito e discriminação por parte de alguns colegas, dificuldades de comunicação próprias do TEA e ambientes de trabalho pouco adaptados, com muitos estímulos sensoriais ou rotinas pouco estruturadas.

A própria entrevista de emprego pode ser um grande obstáculo, devido à dificuldade de comunicação e socialização características do TEA. Esses desafios podem acabar mascarando os talentos da pessoa com TEA, levando ao desperdício de potenciais valiosos.

Existem, porém, estratégias que podem mitigar esses problemas. Uma delas é conscientizar os colegas de trabalho sobre o TEA, promovendo maior aceitação, compreensão e suporte. Outra medida seria criar um ambiente de trabalho mais inclusivo, com menos ruídos e maior previsibilidade nas tarefas diárias. Também é interessante identificar as habilidades e talentos dos trabalhadores com TEA, aproveitando esses atributos para maximizar seu desempenho.

Pessoas autistas podem apresentar maior atenção a detalhes, resiliência em tarefas repetitivas e perspectivas diferenciadas, entre outras qualidades – embora esses atributos variem, já que cada pessoa com autismo é única. Concluo que, sim, é possível incluir pessoas com TEA no mercado de trabalho, desde que estratégias adequadas sejam implementadas.

*Por Dr. Pedro Manzke – CRM: 18583-DF RQE Nº: 16477
Neurologista do Hospital Sírio-Libanês de Brasília