Uma das queixas mais comuns no consultório de ortopedia é a dor no joelho. Mais especificamente, a dor anterior ou femoropatelar. Neste cenário, a patologia mais frequentemente diagnosticada como causadora desta dor é a condromalácia patelar, uma condição mal compreendida até mesmo entre colegas médicos.

Afinal de contas, o que é a condromalácia patelar?

De maneira bem simplificada, a condromalácia é uma espécie de amolecimento e degeneração que pode acontecer em qualquer cartilagem, tendo como causa principal uma sobrecarga mecânica, mas levando-se em consideração também possíveis fatores metabólicos, genéticos e ambientais.

Costumo explicar a meus pacientes (muitos já me procuram rotulados com um diagnóstico prévio de condromalácia patelar) que a cartilagem da patela não é a vilã da história mas, ao contrário, ela é a estrutura nobre que está pedindo socorro. A cartilagem é um tecido aneural. Isto significa que não possui terminações nervosas e, portanto, não é a condromalácia em si que gera a dor! Esta informação é muito importante quando vamos compreender um paciente com dor anterior no joelho.

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Então o que gera a dor na condromalácia patelar?

Em última análise, o que gera qualquer dor é a ativação de fibras nervosas (nervos) que carregam informações nociceptivas (dor) ao nosso sistema nervoso central (cérebro). Em pacientes com condromalácia patelar, o mesmo fator que causa a sobrecarga na cartilagem (que já vimos ser aneural e, portanto, não transmite informação de dor), também leva à alterações em estruturas adjacentes que possuem terminações nervosas, como ligamentos, tendões, cápsula articular e a gordura de Hoffa (que protege o tendão patelar).

Como diagnosticar?

Tendo isto em mente, o que precisamos fazer é um diagnóstico correto! A condromalácia patelar não é o diagnóstico final, mas sim uma constatação de que algo está afetando a cartilagem e, se não investigarmos a fundo, se não individualizarmos a abordagem, realmente o tratamento vai ser “difícil”. Esta investigação deve incluir o histórico de atividades do paciente, a presença ou não de patologias de base que possam afetar a cartilagem, a ocorrência ou não de lesões prévias, a anatomia do indivíduo mas, principalmente, o que é esquecido por muitos colegas: a biomecânica e possíveis desequilíbrios musculares.

Para que haja diagnóstico e tratamento adequados, a avaliação precisa ser pormenorizada e requer uma avaliação específica de inúmeros fatores que, muitas vezes, não se encontram sequer no joelho, podendo estar relacionados a alterações no quadril ou no tornozelo, por exemplo. Portanto, a causa de muitos resultados ruins não está na patologia em si, mas na generalização de um diagnóstico que muitas vezes é superficial e não permite a personalização do seu tratamento. Na imensa maioria das vezes, o sucesso terapêutico não depende de nenhuma intervenção cirúrgica ou mesmo medicamentosa, mas da correta abordagem e um bom profissional de fisioterapia que se dedique à reabilitação individualizada destes pacientes.

*Por Dr. Raphael Serra Cruz CRM RJ 820687
Ortopedista e Traumatologista