As primeiras fases do câncer da próstata são assintomáticas, podendo levar muitos anos para que apareçam os primeiros sintomas. Quando a doença já está em estágio avançado, as células prostáticas cancerosas podem crescer rapidamente, por isso são imprescindíveis os exames de rotina para que se tomem medidas preventivas e, até mesmo, descartar qualquer hipótese de doença. O toque retal, associado à dosagem da proteína PSA no sangue (Antígeno Prostático Específico, dosagem no sangue), permite a detecção do tumor ainda em estágio precoce. As consultas devem começar a partir dos 40-45 anos. Caso seja detectado algo suspeito num exame de toque retal ou com o PSA, após o exame confirmatório de biópsia da próstata, o tratamento pode ser iniciado imediatamente.

Existem várias opções para o tratamento do câncer de próstata. Uma indicação inovadora é o Ultrassom Focalizado de Alta Intensidade, o HIFU (High Intensity Focused Ultrassound), técnica minimamente invasiva, onde não há introdução de instrumentos, como agulhas, ou sementes radioativas. Ele é recomendado para o câncer primário e localizado em fase inicial e de baixo e médio risco. Entre os métodos disponíveis, é o que apresenta os menores índices de efeitos colaterais, como incontinência urinária e disfunção erétil, tem baixa taxa de mortalidade (praticamente nula) e alto índice de sobrevida livre de metástases aos 10 anos, com taxas aceitáveis de morbidade.

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Originalmente, o HIFU foi utilizado para o tratamento de doenças no cérebro, com o objetivo de apenas retirar os nódulos existentes no órgão, mantendo as demais estruturas e tecidos sadios preservados. Mais tarde se descobriu ser muito mais eficaz, e com melhores resultados, no tratamento do câncer de próstata. Na Europa, os órgãos reguladores aprovaram o HIFU em 2001.

A partir de 2004, tornou-se disponível em hospitais e centros de tratamento no México, Costa Rica, África do Sul e Caribe. No Canadá, foi aprovado em 2005, e nos Estados Unidos, o FDA (Food and Drug Administration) aprovou em 2015. No Brasil, a ANVISA aprovou em 2008, e o primeiro procedimento no país ocorreu em 2011.

Muitos pacientes questionam se o câncer de próstata tem cura. Sim, desde que o diagnóstico seja precoce. Quanto antes for descoberto, maiores são as chances de cura. Desta forma, o paciente poderá se beneficiar do tratamento com avançadas terapias não invasivas, como é o caso do HIFU, aplicado apenas pelo trajeto natural do corpo do paciente, sem incisões ou cortes.

O procedimento com a técnica HIFU consiste em um foco de ondas sonoras que cria calor e energia mecânica num ponto específico (ou seja, o ponto focal). Esta energia efetivamente destrói o tecido-alvo porque é projetado num ponto específico que destrói o tecido e deixa as células que estão ao redor da próstata ilesas. Outra dúvida recorrente dos pacientes é se o HIFU só trata as células cancerígenas.

Baseado no relatório de patologia e exames de imagem por ressonância magnética e/ou PET-SCAN com PSMA, o médico pode determinar a localização exata, e usar o HIFU para tratar apenas o tumor, deixando outros tecidos da próstata intactos (terapia focal). Sem introdução de instrumentos, agulhas ou sementes radioativas, o procedimento com HIFU tem duração média de 3 horas e não necessita de transfusão sanguínea, reduzindo as complicações cardiovasculares.

O tempo de internação é de 12 a 24 horas. A recuperação do paciente dependerá do estágio e da localização de sua doença, mas, geralmente, o retorno às atividades ocorre em poucos dias. Após o procedimento, são necessárias poucas horas em recuperação e de internação em quarto comum, para então receber alta. Os desconfortos são leves.

Pacientes que se deslocam para o tratamento, habitualmente recebem autorização para viajar (até mesmo via aérea) no dia seguinte ao procedimento. Na maioria dos casos é possível retornar ao trabalho (em escritório ou com pouca movimentação) no dia seguinte ou 2 dias após o procedimento. Atividade física mais intensa pode ser praticada após 25 dias. Normalmente, os pacientes podem voltar à atividade sexual depois que o cateter for removido.

Se após o tratamento com a técnica houver uma elevação no PSA e/ou evidência de que o câncer apareceu em local diferente (na próstata), é possível voltar a empregar o HIFU no novo local. Esta é uma abordagem muito menos radical para localizar o câncer e eliminá-lo. Além disso, o paciente pode optar por qualquer outro tipo de terapia neste novo momento.

A técnica também pode ser aplicada caso o paciente tenha sido tratado anteriormente com radioterapia externa ou braquiterapia e a doença retornou. É o que chamamos de HIFU de salvamento. Aliás, esta indicação tem sido apontada como a melhor por muitas sociedades médicas da especialidade, em diferentes países.

*Por Dr. Marcelo Bendhack – CRM-PR 13.525

Uro-Oncologista
Presidente da Sociedade Latino-Americana de Uro-Oncologia (UROLA).
Especialista pela Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) e membro do conselho da Federação Mundial de Uro-Oncologia (WUOF).
Doutor pela Universidade de Düsseldorf (Alemanha) e pela Universidade Federal do Paraná.