Um levantamento realizado pela Sociedade Brasileira de Mastologia revela que os casos de diagnósticos de câncer de mama em estágios mais graves aumentaram em cerca de 26% no país. O estudo foi realizado a partir de dados fornecidos pelo Ministério da Saúde. A análise também aponta que o principal motivo para a manifestação de novas ocorrências deste tipo de câncer foi a redução no número de diagnósticos realizados no período mais crítico da pandemia da Covid-19. De acordo com o médico Carlos Ruiz, da Sociedade Brasileira de Mastologia, já era prevista uma alta nos casos mais graves, mas o registro foi feito antes do esperado pela comunidade médica. “Na pandemia existia uma prioridade, que era você se isolar. Não vamos criar a culpa de quem teve câncer depois da pandemia responsabilizando ela por não ter feito o exame, porque isso não é real. O conhecimento da época exigia que a gente se isolasse. Então não existe culpa. Porém, obviamente, quem não teve oportunidade de fazer os exames, acaba retardando o diagnóstico. Isso tem um peso. Acaba trazendo para as pessoas uma condição de diagnóstico mais tardio. Isso significa tumores maiores e comprometimento linfonodal. Na axila, os gânglios, que as pessoas chamam de caroço, esses gânglios mostras, em algumas das vezes, não em todas, que o câncer pode ter saído da mama e chegado até a axila”, diz Ruiz.
O levantamento também demonstra que em 2020 foram realizadas cerca de 1,6 milhão de mamografias no Brasil, número 40% inferior aos exames realizados em 2019. Já em 2021, o percentual foi 18% menos com o mesmo ano. Para aumentar a chance de cura de cada paciente, o médico destaca a importância do diagnóstico precoce da doença até o tratamento dentro do prazo adequado. “A gente sabe que vai ter nesse momento como uma tsunami, uma onda grande dessas pacientes para se resolver. Só que a gente não pode focar só nessa resolução, que também é muito importante. Não podemos esquecer do diagnóstico precoce, do rastreamento, as mulheres fazerem a mamografia anual a partir dos 40 anos. São questões que andam em separado. Porque se eu deixar de me preocupar com o rastreamento, vai ser um contínuo esse número de casos. Então, eu preciso investir nas duas investir, numa resolução rápida, ou seja, biopsia e cirurgia e o tratamento como um todo, e o rastreamento, para fazer o diagnóstico precoce. Não tem nada mais efetivo que o rastreamento, absolutamente nada”.
Para o especialista, a situação expõe a necessidade de aprimoramento da saúde pública: “Infelizmente no Brasil, os programas de rastreamento que deveriam chegar até a 70% da população não chegam a 30% em média. Então a gente está muito aquém daquilo que a gente busca como objetivo principal. A média no Brasil do diagnóstico ao tratamento, que tem uma lei, a lei dos 60 dias, eu fiz o diagnóstico e em 60 dias eu tenho que estar operando. A média do Brasil ultrapassa 130, 140 dias. Em alguns estados, mais de 250 dias. Então, você imagina alguém com um módulo mamário, com diagnóstico de câncer, esperado quase seis meses para ser operado.
*Com informações da repórter Letícia Miyamoto